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quarta-feira, 28 de abril de 2010

Brasil,o paraiso é aqui

Primeiro, é necessário pontificar o que é paraíso. É o céu? Aquele lugar cheio de anjos, todo azul, cheio de nuvens, paz e felicidade eterna?
Se for assim, ele não é aqui, nem em lugar nenhum do planeta Terra.
Mas, se paraíso estiver no coração, se ele for uma identidade, uma maneira de viver, uma vida, história, orgulho, ele é aqui.

A gente nasceu nesta Terra, cheia de pássaros, vegetação abundante. “A terra é bela e fértil, é uma terra onde tudo dá...” disse Caminha.
É verdade, dá até brasileiro. Nós damos aqui. Nossa semente foi plantada pelos índios. Éramos índios a princípio. Os portugueses vieram, “transaram” com as índias e surgiram os mamelucos, eles trouxeram os negros: nasceram os mulatos. Os negros se misturaram com os índios surgiram os cafuzos...

A partir daí, outras raças apareceram e todas as cores foram se misturando. Quando giramos a cartela de cores a mistura de tudo, deu o “branco” brasileiro.

Só que este “branco” colorido tem também uma alma polivalente e foi com esta alma que nós construímos a nossa identidade cultural. E, com certeza, o paraíso é onde mora nossa alma.
Se um brasileiro mora em Nova Iorque ou Paris e continua correndo atrás de farofa, tem saudades de nosso canto, se tem “banzo”, com certeza, está fora.

O Saci Pererê, as cantigas de roda, o Bumba meu Boi, as brincadeiras de pique. O seu quintal é sua casa, é o lugar onde você não é turista, onde não deveria nem ter carteira de identidade.

Hoje, segundo os portugueses, nós falamos “brasileiro.” Isto me lembrou uma estória que me contaram sobre uma vietnamita que foi aos dez anos para os Estados Unidos, depois mudou-se para a Espanha, para a França e no final, aos 23 anos não possuía nenhuma identidade cultural.Nunca havia pensado nesta hipótese. De não pertencer a lugar nenhum. Não ter uma história além da minha própria: não ter família, nem nação, nem idioma.


Que pesadelo! Graças a Deus falo brasileiro, minhas terras vão do Oiapoque ao Chuí. Meu país tem água, floresta, é imenso. Se quiser ser mais índia rumo para o norte, mais alemã, vou para o sul, se desejar acarajé, vou à Bahia. E, se quiser ter uma emoção maior ainda, posso ir a Quinta ou ao Museu de Petrópolis andar pelo jardim e pensar: nossa! Pedrinho o primeiro imperador do Brasil já andou aqui... É, Brasil! Meu paraíso é aqui...

terça-feira, 27 de abril de 2010

O que é arte

O que é a arte?
A arte, a tão falada arte, é aquilo que salva o homem de si mesmo, curando-o do sofrimento ao canalizar seus excessos...
Arte é exercer meu eu por inteiro, sem submissão, a partir de percepções, emoções e idéias.
No século V os gregos viam a arte como sendo um meio para realizar determinadas obras; estas poderiam ser tanto esculturas quanto pinturas, indumentárias , navios.
Este conceito grego, na verdade, é bastante atual. É arte, hoje, tudo o que em sua realização tiver emoção, imaginação e vontade.
Ainda que este possa ser considerado um conceito muito abrangente por aqueles que admiram os grandes pintores, escultores, a arte de um confeiteiro pode estar no mesmo plano que as anteriores, desde que a percepção a razão e a emoção estejam presentes.
Para Schiller, comenta Viviane, só há ser humano com o desenvolvimento da arte. Ela é capaz de curar a depressão porque permite satisfazer parte do instinto seduzindo-o ao nosso favor. Ela continua, dizendo que o que a cultura tem que ensinar antes de ler e escrever, é o gosto estético.
Isto me lembra uma amiga que tinha uma loja muito bem arrumada com vitrines idealizadas com grande criatividade e senso estético.
Todos os dias o limpador do chão do shopping passava e elogiava os produtos e sua disposição harmônica. Ela se envaidecia com aquilo, mas, sua maior emoção foi ,quando, num sábado, o faxineiro apareceram, com a mulher e a filha, todos em trajes de gala e pediu a ela permissão -imagine- para entrar e mostrar a loja à família. Ninguém que fosse capaz de comprar todos os seus artigos teria sido capaz de fazê-la tão feliz como eles a fizeram. Ela ficou deveras comovida e me confessou que este foi seu melhor momento enquanto dona de loja. Era algo que não tinha preço. Era uma visão de arte que não gerava uma apreciação somente dos ricos, mas que, em sua sutileza, havia sensibilizado pessoas de pouca cultura e havia-nas-nas levado mesmo a se expressar o que se podia notar, claramente, por seu respeito no trajar e pela madeira sensível de admirar a mercadoria exposta, esta , provavelmente ,algo incomum dentro de seu universo.
No caso acima, a beleza foi uma percepção individual, caracterizada pelo que era agradável aos sentidos. E o prazer é a ligação principal que Kant faz com o belo, com a arte. Segundo ele, este, por ser subjetivo, não está conectado com a realidade.
O texto termina perguntando ao meu amigo Sherlock Holmes, qual a frase que ele usaria para terminar este pequeno apanhado sobre a arte. Ele me olha de banda, consulta Watson e responde:
_A frase da Viviane que diz que só a arte proporciona prazeres que não precisam ser merecidos.

A arte

Gente analisada é assim: muito boazinha antes do tratamento. Cordata, simpática, tudo de bom, um amor.
Começa a terapia, vai evoluindo e pronto, se “coloca”.
Se colocar, para quem não sabe, é botar para fora, sem dó nem piedade, seu lado negro.
Tudo passa a ser dito sem censura.
A primeira a pagar é a pobre da mãe. Esta passa a ser a culpada de tudo. De tudo que deu errado, diga-se de passagem.
E agora comigo tudo mudou, sou outra pessoa, diz a analisada: ele, ela , todo mundo vai ouvir o que tenho a dizer, não guardo mais, só faço o que quero, doa a quem doer. E por aí vai ela, esbravejando...
Os que estão em volta se possível se afastam. Maridos se separam, amigos brigam, e aqueles que não têm outro jeito, aturam.
Tudo parece sem solução, pois, no mundo atual, o importante é ser feliz . Afinal, como ter problemas num mundo tão perfeito! Num tempo tão irreal que chega a querer fazer do trabalho um lazer e, do lazer, um dever...
Foi, nesta encruzilhada, que ouvi da Viviane, a filósofa, na sala de aula, numa das terças à tarde onde nos conta tudo sobre o sofrimento, o trágico, o inevitável, os segredos de seu amigo Schiller, no que se refere aos cuidados de si.
Para cuidar de si, disse ela, você tem que ter um interior transbordante e um exterior limitado, tem que ser educado, delicado com os que o cercam.
Mas e agora, onde fica o analisado? O que vai fazer com sua sombra, com seu excesso que não pode mais ser derramado?... Como ele fica?...Onde fica?... Para que lugar vai aquele entulho trágico que o sufoca. Ele, agora, de novo, tão delicado...
Mas que é isso, falou Nietzsche, pulando de dentro do Zaratustra que estava sobre a mesa . Não vos fazeis de delicados, pois não passais de bestas de carga.
O analisado, catatônico, olha para Viviane que invoca os sábios.
Nietzsche fita Schiller já presente, que chama o detetive Sherlock Holmes para responder. Este aspira fumaça de seu cachimbo, dá três baforadas e fala após uma pausa e um pigarro.
_ Elementar, caros colegas, a saída para a angústia que fica presa no peito, para a depressão que nos paralisa , é uma só: a ARTE.

Ser Feliz

Desde o século passado, com o advento da psicanálise, o homem vem tentando se aprimorar na arte de ter que ser feliz. Há, desde então, o “dever” de ser feliz. O sofrimento passou a ser considerado uma doença e não mais a ser visto com natural da vida humana.
• Nos primórdios da vida humana, antes dos gregos darem ao homem uma consciência ética e moral este, era mais instinto, tinha um lado humano menos elaborado, mais animalesco, tinha que lutar contra as forças externas da natureza para sobreviver. Era a violência do homem contra a da natureza e este canalizava nesta direção sua energia e seus sentimentos. Seu sofrimento era brutalizado na luta diária visando um bem maior, o da sobrevivência. Tudo se resumia em matar ou morrer. Agora o drama é conviver pacificamente com sua humanidade, num todo maior onde tem que ter compaixão, delicadeza e ética respirando felicidade.
Foi uma mudança brutal. O instinto e a humanidade e com ela o sofrimento, continuam a direcionar a vida humana.
O homem humanizado sente-se responsável pelo seu sofrer. Assim, ele quer deter o mal e desenvolver o bem. O livre arbítrio faz com que ele sinta que o sofrimento na terra tenha sempre um cunho de escolha pessoal.
Antigamente, ele buscava o sofrimento para se purificar. Hoje o abafa e só admite ser feliz.
Vejamos agora minha amiga Celeste que criou seus filhos, na década de oitenta, priorizando a felicidade. Estudavam normalmente, sem grandes pressões, viam televisão... Nas férias convidavam os amigos para brincar, estes podiam passar dias na sua casa, sem “stress”.
As contrariedades eram as normais, talvez num nível abaixo do necessário.
As crianças cresceram e, ao iniciarem a vida profissional, ficaram desorientadas,apesar de estarem bem preparados para as carreiras escolhidas.
Um deles sentou-se desolado junto da mãe em determinado dia e acusou-a de ser a responsável por sua atual infelicidade. Ele era da opinião de que deveria ter sofrido para poder agora estar mais forte para a convivência no trabalho no qual, apesar de seu bom desempenho profissional, não conseguia se adaptar ao tratamento recebido pelo chefe.
• Celeste ficou estarrecida... Pensou até que talvez devesse ter fabricado alguns problemas no passado, mas isto na verdade era insano.
As queixas continuavam até que ela sentou o rapaz na sua frente e falou:
__Tem alguma coisa que eu nunca falei para você. Uma verdade que nunca contei, mas que vou contar agora. A VIDA É UMA ‘DROGA’. Cheia de sofrimentos, de dor, de percalços. Vá se acostumando, é daí para pior.
Ele olhou para ela assustado, atônito, e não replicou.
Desde então, quando ele vinha se queixar ela lembrava a verdade. Você pode ate ter tido em uma época sua “Disneylândia”, mas a vida não é um parque de diversões.
Penso que é assim mesmo, muito difícil lidar com a vida.
Sempre houve ventos, tufões, ciclones, tempestades. As terras se acomodam depois dos terremotos. Estas forças criam vida. Após o caos tudo é renovado, surgem novas planícies, rios, vegetações... Não terá sido assim que desapareceram os dinossauros?
Novas forças existem e existirão sempre e o homem atual não quer aceitar com naturalidade as atuais metamorfoses. Estas geram desastres, mudanças, mortes, que vivenciamos com sofrimento. Antigamente, além de a natureza ser incontrolável, não havia uma ciência desenvolvida que fosse capaz de “prever” desastres ecológicos como é” possível “ hoje em dia.Mas também não sofríamos por antecipação por coisas que muitas vezes nem acontecem.
Queria terminar citando Nietzsche:
__Por variados caminhos e de várias maneiras cheguei à minha verdade.
E sempre e somente a contragosto perguntei pelos caminhos- isto sempre me repugnava! Preferia interrogar e experimentar os próprios caminhos.
Experimentar e interrogar consistiu nisso todo o meu caminhar.
Este agora é o meu caminho, onde está o vosso? Assim respondia eu aos que me perguntavam o caminho.
Porque o caminho, não existe.
Neste momento peço à minha amiga Celeste, que ficou tão abalada com as escolhas que fez ao caminhar com seus filhos, que leia e internalize se possível, as palavras de Nietzsche.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Estética

Para Platão o belo estava no plano do ideal, era colocado por ele como absoluto e eterno, não dependia dos objetos, era a ideia da perfeição.

Para Kant o senso de estética vinha do sentimento e funcionava no ser humano como intermediário entre a razão e o intelecto. A beleza dependeria do prazer apreendido.

Para Hegel, o belo era algo espiritual, ele o colocava na categoria de conceito, sem uma realidade física, dependendo da imaginação do sujeito.

De acordo com Viviane Mosé antes de ler e escrever a cultura deveria ensinar o gosto estético, que é identificar nos objetos e na natureza contornos equilibrados. Para ela só consegue ver a beleza aquele que construiu sua capacidade estética.

Assim, estética pode ser um gosto apreendido ou aprendido diante de uma ação ou visão do sujeito. Só a beleza pode proporcionar prazeres imerecidos.
Mas vocês estão com certeza se perguntando o porquê deste assunto. Explico:
tudo aconteceu enquanto lia o capítulo treze do livro "A elegância do ouriço".

Uma personagem, do mesmo, descreve um filme japonês no qual os protagonistas se enlevam com belezas simples tais como: uma camélia sobre o musgo no templo, uma xícara de porcelana azul, a cor violeta dos montes de Kioto...


Porém, o que mais me marcou foi uma frase do filme: "A verdadeira novidade é aquilo que não envelhece através do tempo". E a autora continua perguntando se não é essa eclosão de beleza pura no centro das paixões efêmeras que nós todos aspiramos e que, nós, Civilizações Ocidentais, não sabemos alcançar : a contemplação da eternidade do próprio movimento da vida.

Neste momento fiquei pensando no que seria uma beleza imutável e me veio à cabeça o vôo alegre do beija-flor, a leveza da borboleta colorida entremeando as flores, uma lágrima sorriso, no enigma da Monaliza.

Assim, senso estético é senso de perspectiva; se você olha, aprecia, está sempre no presente, é o gosto da vida : ver vai depender da sua capacidade de sentir, de participar.

Termino com Viviane* quando diz que a estética da existência é fazer da nossa vida uma obra de arte.

*Viviane Mosé é psicanalista e doutora em filosofia.