Pesquisar este blog

terça-feira, 27 de abril de 2010

Ser Feliz

Desde o século passado, com o advento da psicanálise, o homem vem tentando se aprimorar na arte de ter que ser feliz. Há, desde então, o “dever” de ser feliz. O sofrimento passou a ser considerado uma doença e não mais a ser visto com natural da vida humana.
• Nos primórdios da vida humana, antes dos gregos darem ao homem uma consciência ética e moral este, era mais instinto, tinha um lado humano menos elaborado, mais animalesco, tinha que lutar contra as forças externas da natureza para sobreviver. Era a violência do homem contra a da natureza e este canalizava nesta direção sua energia e seus sentimentos. Seu sofrimento era brutalizado na luta diária visando um bem maior, o da sobrevivência. Tudo se resumia em matar ou morrer. Agora o drama é conviver pacificamente com sua humanidade, num todo maior onde tem que ter compaixão, delicadeza e ética respirando felicidade.
Foi uma mudança brutal. O instinto e a humanidade e com ela o sofrimento, continuam a direcionar a vida humana.
O homem humanizado sente-se responsável pelo seu sofrer. Assim, ele quer deter o mal e desenvolver o bem. O livre arbítrio faz com que ele sinta que o sofrimento na terra tenha sempre um cunho de escolha pessoal.
Antigamente, ele buscava o sofrimento para se purificar. Hoje o abafa e só admite ser feliz.
Vejamos agora minha amiga Celeste que criou seus filhos, na década de oitenta, priorizando a felicidade. Estudavam normalmente, sem grandes pressões, viam televisão... Nas férias convidavam os amigos para brincar, estes podiam passar dias na sua casa, sem “stress”.
As contrariedades eram as normais, talvez num nível abaixo do necessário.
As crianças cresceram e, ao iniciarem a vida profissional, ficaram desorientadas,apesar de estarem bem preparados para as carreiras escolhidas.
Um deles sentou-se desolado junto da mãe em determinado dia e acusou-a de ser a responsável por sua atual infelicidade. Ele era da opinião de que deveria ter sofrido para poder agora estar mais forte para a convivência no trabalho no qual, apesar de seu bom desempenho profissional, não conseguia se adaptar ao tratamento recebido pelo chefe.
• Celeste ficou estarrecida... Pensou até que talvez devesse ter fabricado alguns problemas no passado, mas isto na verdade era insano.
As queixas continuavam até que ela sentou o rapaz na sua frente e falou:
__Tem alguma coisa que eu nunca falei para você. Uma verdade que nunca contei, mas que vou contar agora. A VIDA É UMA ‘DROGA’. Cheia de sofrimentos, de dor, de percalços. Vá se acostumando, é daí para pior.
Ele olhou para ela assustado, atônito, e não replicou.
Desde então, quando ele vinha se queixar ela lembrava a verdade. Você pode ate ter tido em uma época sua “Disneylândia”, mas a vida não é um parque de diversões.
Penso que é assim mesmo, muito difícil lidar com a vida.
Sempre houve ventos, tufões, ciclones, tempestades. As terras se acomodam depois dos terremotos. Estas forças criam vida. Após o caos tudo é renovado, surgem novas planícies, rios, vegetações... Não terá sido assim que desapareceram os dinossauros?
Novas forças existem e existirão sempre e o homem atual não quer aceitar com naturalidade as atuais metamorfoses. Estas geram desastres, mudanças, mortes, que vivenciamos com sofrimento. Antigamente, além de a natureza ser incontrolável, não havia uma ciência desenvolvida que fosse capaz de “prever” desastres ecológicos como é” possível “ hoje em dia.Mas também não sofríamos por antecipação por coisas que muitas vezes nem acontecem.
Queria terminar citando Nietzsche:
__Por variados caminhos e de várias maneiras cheguei à minha verdade.
E sempre e somente a contragosto perguntei pelos caminhos- isto sempre me repugnava! Preferia interrogar e experimentar os próprios caminhos.
Experimentar e interrogar consistiu nisso todo o meu caminhar.
Este agora é o meu caminho, onde está o vosso? Assim respondia eu aos que me perguntavam o caminho.
Porque o caminho, não existe.
Neste momento peço à minha amiga Celeste, que ficou tão abalada com as escolhas que fez ao caminhar com seus filhos, que leia e internalize se possível, as palavras de Nietzsche.

Nenhum comentário:

Postar um comentário